domingo, 16 de junho de 2013

Fiquei encolhida durante todo o tempo necessário. Não, não todo o tempo... acho que nem todo o tempo do mundo levaria pra longe a dor no meu coração. Fiquei encolhida o tempo que tinha para ficar encolhida.

Meu filho precisava de mim... tinha de comer, então eu não tinha tempo pra sofrer.

Levantei... automaticamente preparei algo para Cadu... e depois fomos para o apartamento das garotinhas que eu cuidava. A mãe delas me esperava como sempre: ao meio-dia.

Quando cheguei ela me disse que precisava conversar comigo quando voltasse... e eu esperei. Sabe aqueles sentimentos que vêm como uma negra nuvem a tomam conta de você? Pois é... foi assim que passei a tarde. Claro, tentei manter o controle... o pensamento positivo, mas estava difícil. Li nos olhos dela que ia me dizer algo que não seria bom.

E, realmente... às 19 horas ela chegou e disse: daqui a um mês estamos indo para a Inglaterra... meu marido vai terminar o doutorado lá e, acredito, não voltamos mais para o Brasil.

Pronto! Sem meu pai, sem meu trabalho... tudo no mesmo dia.

Não que eu não tenha ficado feliz por ela... claro... era uma mudança e tanto... morar no primeiro mundo... ficar perto de onde tudo é história... fiquei feliz por ela, sim. Mas fiquei preocupada... pois parecia que meus sonhos estavam se afastando um pouquinho mais de mim.

Até quando tenho de pagar pelos meus erros. Já pedi perdão a Deus um milhão de vezes. Definitivamente acho que Deus não está preocupado em perdoar... se você errou e errou feio... vai passar sua vida pagando pelo erro. Não importa quantas vezes pedir perdão... seu pedido não vai nem ultrapassar o teto de sua casa.

Deus, você pode esquecer quem eu fui? Você consegue ver apenas quem sou agora? Importa apenas quem eu sou... quem eu fui já passou, não importa mais, aquela não existe mais.

Bom,  acabei me forçando a um autoconvencimento: não há sofrimento que não possa ser superado.

Dez dias depois da partida de papai, recebi uma carta de minha prima, Jéssica.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Quando fechei a porta depois de acompanhar com os olhos meu pai descendo as escadas, senti um tremendo nó na garganta. Queria chorar e chorar, mas sabia que não podia - não queria que Cadu percebesse o quão triste eu estava, o quão solitária me sentia.

É bem verdade que cheguei só com meu filho em Florianópolis, mas não tinha dimensionado o tamanho da solidão que me acompanhava. Estava ocupada demais em organizar a vida de forma que conseguíssemos - ele e eu - nos adaptar à nova situação.

Depois da visita de meu pai - organizando o que estava desorganizado no apartamento, comprando o que faltava, suprindo nossa geladeira - percebi que estava, sem meu pai aqui, sem estrado para meus pés. Eu estava definitivamente só.

Mesmo o apoio emocional - meu pai não disse uma palavra de carinho, não perguntou se eu estava feliz com a escolha que havia feito -, não, ele não fez nada disso... mas eu me senti abraçada, cuidada. Enquanto meu pai estava aqui, eu senti que alguém se importava comigo.

Você já se sentiu só? Já sentiu, mesmo em meio a uma multidão, uma tremenda solidão? Acompanhad@... mas só? Sentiu aquela sensação ruim de não poder contar com ninguém, de estar sozinh@ no mundo? Sentiu culpa por estar só? Já se perguntou: por que não há ninguém que queira ficar perto de você? Sentiu-se culpad@ da própria solidão?

Eu só pensava: por que o castigo é tão grande? Por que a pena que me é afligida ocupa tanto espaço da minha vida? Por que tamanha intensidade de dor?

Deitei no beliche, abracei meu filho e deixei o tempo passar... só sabia que estava só, que meu filho dependia de mim para não se sentir só e que eu não podia sequer chorar.


domingo, 9 de junho de 2013

Meu relacionamento com meu pai: frio, distante. Não que ele não me amasse, mas ele nunca disse isso claramente. Havia uma ligação forte entre nós, eu sentia isso. Mas nunca, nunca sentimento nenhum foi expressado.

Nunca, não... apenas uma vez - fiz algo de que me envergonho de contar, portanto não vou escrever aqui -, ele chorou quando me ouviu dizer, entre lágrimas: 'não quero voltar pra casa'.

Foi a única vez na minha vida que o vi chorar. Isso é coisa de criação mesmo... em algumas famílias, expressar seus sentimentos é algo fácil, natural. Na minha nunca teve disso.

Só os erros dos filhos eram apontados, gritados, batidos... só. O resto parecia que não existia.

Abraço e beijo meu filho um milhão de vezes por dia... quero que ele leve pra sempre no coração, na mente, nos bolsos a certeza do meu grande amor por ele. Cadu sabe e vai saber pra sempre que, onde quer que ele esteja, aconteça o que acontecer... ele pode voltar pro meu abraço.

Filho é pra gente abraçar... soltar pro mundo... que eu sei que os filhos não são propriedade nossa... mas, filho tem de saber que pode voltar, pode contar com o aconchego do seu primeiro lar... ele tem de saber: never alone...

Era terça-feira... 8 horas, a campainha tocou. Pensei que fosse meu anjo da guarda que mora ao lado. Atendi sem nem mesmo olhar no olho mágico.

Abri a porta e parado com uma malinha na mão: meu pai.

Eu só o abracei... lembro-me bem disso... as outras lembrança que tenho dos cinco dias que ele ficou em nosso apartamento são: o momento em que o apresentei pro meu anjo da guarda, nossa ida ao supermercado e voltando cheios de sacolas de compras, o momento em que ele preencheu cinco cheques pré-datados de R$ 200, 00 (+ ou - o equivalente hoje) e disse que era para eu usar um por um nos seguintes cinco meses pra comprar comida pra mim e Cadu.... e ele descendo as escadas no momento de sua volta pra Terra Roxa.... suas costas curvadas, carregando a malinha desbotada, surrada, toda desengonçada de tanto ser jogada de lá pra cá durante toda a vida dele (era a malinha que havia ganhado de vovô quando fez 16 anos e foi para o seminário - meu pai ia, veja bem, eu disse ia, ser padre).

O que ficou depois que papai partiu: uma solidão mais imensa que já senti; um beliche com dois colchões fofinho, novinhos, limpinhos; um fogão novinho em folha; uma geladeira cheinha, cheinha de comida, sucos, bobs esponjas; um armário repleto de biscoitos, latas de leite em pó, leite condensado, caixas de sucrilhos; todas as tomadas funcionando bem certinho, lâmpadas em todos os cômodos do apartamento e uma bicicleta e uma bola pro meu pequeninho.

O que faltou quando papai partiu: meu chão....

Uma semana depois que ele partiu recebi uma carta de minha prima Carla.

Se a maldade pode ser materializada em forma de gente, ela se materializaria em forma de minha prima.