domingo, 9 de junho de 2013

Meu relacionamento com meu pai: frio, distante. Não que ele não me amasse, mas ele nunca disse isso claramente. Havia uma ligação forte entre nós, eu sentia isso. Mas nunca, nunca sentimento nenhum foi expressado.

Nunca, não... apenas uma vez - fiz algo de que me envergonho de contar, portanto não vou escrever aqui -, ele chorou quando me ouviu dizer, entre lágrimas: 'não quero voltar pra casa'.

Foi a única vez na minha vida que o vi chorar. Isso é coisa de criação mesmo... em algumas famílias, expressar seus sentimentos é algo fácil, natural. Na minha nunca teve disso.

Só os erros dos filhos eram apontados, gritados, batidos... só. O resto parecia que não existia.

Abraço e beijo meu filho um milhão de vezes por dia... quero que ele leve pra sempre no coração, na mente, nos bolsos a certeza do meu grande amor por ele. Cadu sabe e vai saber pra sempre que, onde quer que ele esteja, aconteça o que acontecer... ele pode voltar pro meu abraço.

Filho é pra gente abraçar... soltar pro mundo... que eu sei que os filhos não são propriedade nossa... mas, filho tem de saber que pode voltar, pode contar com o aconchego do seu primeiro lar... ele tem de saber: never alone...

Era terça-feira... 8 horas, a campainha tocou. Pensei que fosse meu anjo da guarda que mora ao lado. Atendi sem nem mesmo olhar no olho mágico.

Abri a porta e parado com uma malinha na mão: meu pai.

Eu só o abracei... lembro-me bem disso... as outras lembrança que tenho dos cinco dias que ele ficou em nosso apartamento são: o momento em que o apresentei pro meu anjo da guarda, nossa ida ao supermercado e voltando cheios de sacolas de compras, o momento em que ele preencheu cinco cheques pré-datados de R$ 200, 00 (+ ou - o equivalente hoje) e disse que era para eu usar um por um nos seguintes cinco meses pra comprar comida pra mim e Cadu.... e ele descendo as escadas no momento de sua volta pra Terra Roxa.... suas costas curvadas, carregando a malinha desbotada, surrada, toda desengonçada de tanto ser jogada de lá pra cá durante toda a vida dele (era a malinha que havia ganhado de vovô quando fez 16 anos e foi para o seminário - meu pai ia, veja bem, eu disse ia, ser padre).

O que ficou depois que papai partiu: uma solidão mais imensa que já senti; um beliche com dois colchões fofinho, novinhos, limpinhos; um fogão novinho em folha; uma geladeira cheinha, cheinha de comida, sucos, bobs esponjas; um armário repleto de biscoitos, latas de leite em pó, leite condensado, caixas de sucrilhos; todas as tomadas funcionando bem certinho, lâmpadas em todos os cômodos do apartamento e uma bicicleta e uma bola pro meu pequeninho.

O que faltou quando papai partiu: meu chão....

Uma semana depois que ele partiu recebi uma carta de minha prima Carla.

Se a maldade pode ser materializada em forma de gente, ela se materializaria em forma de minha prima.

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